segunda-feira, 18 de março de 2013

já eu, prefiro os dias chuvosos


Ele mais do que já ouvira falar de todo o mal que vinha dos raios ultra violeta. Mas não era por isso que gostava dos dias nublados. Pois sabia bem que as nuvens, por mais escuras que estejam, não barram esse mal do mundo moderno. E tampouco desgostava do Sol. Sentia-se bem ao se aquecer debaixo dele no frio e amava admirar sua chegada e sua partida diária. 

Contudo, seu coração não o deixava enganar-se: era sim, além de corintiano, um autêntico preferidor dos dias mais cinzas. O sorriso vinha fácil quando, pela manhã, não via o azul do céu. Quando enxergava aquela imensidão branca ou cinza. Também não tinha nada contra o azul e o amarelo da luz. Gostava sim, é verdade! Mas quando o vento da chuva entrava no quarto era difícil manter os olhos abertos e não soltar um longo suspiro. Sentia-se especial naqueles momentos. E não sabia dizer exatamente o por quê. 

A chuva também o deixava confortavelmente nostálgico. Certa vez, chegou a pensar que cada gota da chuva era uma memória esquecida, e que elas caiam do céu só pra gente se lembrar. 

Vez ou outra fazia questão de tomar umas gotas na cabeça pra tentar provar sua teoria. E ela, até então, se provava muito verdadeira, dizia.
Era na chuva que ele dizia ver a vida do planeta pulsar. Parecia até que as plantas ficavam mais felizes. 

Curiosamente, tinha igual fascinação por desertos. E ele também nunca entendeu muito bem o motivo. 

Sempre admirou a beleza da imensidão de areia. O sentimento de solidão e pequeneza que eles passam.

E pensou que um dia gostaria de visitar um deserto num dia chuvoso. Mas não uma tempestade. Só uma garoa fina. Um céu nublado. Cinza. Deixando o amarelo da areia ainda mais vivo. 

Queria visitar, nem que fosse em sonho.

Mas sabia que se chovesse no deserto, talvez o deserto não fosse deserto.

Então preferiu que fosse em sonho. 

E então sonhou.

Com uma imensidão branca e fria. De areia e chuva. De espaço infinito. Onde podia correr sem se cansar e até mesmo voar sem perceber. Pensou que no sonho aquilo fazia muito sentido e que se ele não corresse sem se cansar ele difícil acharia que aquilo não era verdade. Num suspiro de alegria sentiu o corpo mexer e desadormeceu. 

Naquele dia acordou sorrindo e querendo conhecer o polo sul.
E, felizmente, estava chovendo.

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