terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

sente o vento soprar?

Sente o vento soprar? Sente seus pés no chão? Então sente-se... E agora me escute, apenas dessa vez. Prometo que não levará mais que três ou quatro dias...

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São muitos os que percebem o bater do vento no rosto. A maioria sente a areia nos lábios, a poeira nos olhos. São poucos os que conseguem sentir os caminhos e nuances que a brisa traça no seu corpo ao acariciá-lo, o frescor nas pontas dos dedos, a melodia que percorre os ouvidos, a força do ar enchendo nos pulmões e depois saindo, com o mesmo carinho que entrou.
Entre todos esses poucos, um me chamou atenção.

As noites de verão eram definitivamente irritantes. As coisas não poderiam ficar piores do que quando o suor da sua testa se misturava com o sangue batido do último pernilongo que havia sobrevoado o travesseiro. Isso parecia ser o cúmulo das duas da manhã duma madrugada de domingo. Até o ventilador resolver parar. É quando se percebe que não há mais saída, a janela escancarada transmite um suave frescor de tempos em tempos. E era apenas isso. Mas quando já são quatro da manhã um desses tempos curtos é mais do que suficiente para que o sono vença qualquer irritação.

E então vinha o sono, e logo, vinham os sonhos.

Nesses sonhos, que não pareciam ser segredos pra ninguém, ela se sentia flutuando. Olhava pra cima e via um milhão estrelas, desenhadas, frias, distantes; e quando olhava pra baixo via as luzes da cidade, pequeninas, quentes, brilhantes (era como se houvessem estrelas pra todos os lados que olhasse); enxergava também as ruas tranquilas, paradas, como se o mundo tivesse parado pra ela observar; ouvia o som do cheiro amarelo e laranja do vento, que vinha colorindo o que parecia uma dessas madrugadas de outono, um pouco geladas, mas com toda certeza aconchegantes.

Sentia a brisa passando por entre seus dedos dos pés e uma fina garôa borrifar o seu rosto. Sentia tanto que nem parecia estar sonhando.



E sentia tanto que realmente não mais estava.

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