Quando percebeu já estava
correndo. Não se lembrava de ter acordado. De ter ido dormir. Deu-se conta
quando viu o asfalto se transformando em terra que se transformava em cimento
que se transformava em grama. Seus pés se mexiam em harmonia, se encontrando de
relance para logo se distanciarem novamente. E a grama virava areia. E o tempo
não parava de passar. Quando percebeu que estava correndo, foi quando seu
joelho começou a gritar. Foi quando, que em mais dois ou três passos, se
acostumou ao incômodo. E o grito foi ficando baixinho. Ou tão constante que já
nem se dava conta. E a areia virou asfalto.
Quando foi que parou de
pensar se o vento que batia no rosto era da natureza ou se era por ele estar
correndo? Se corresse mais rápido, ventaria mais forte? E se o vento estivesse
em direção contrária? Não sentiria vento algum? E o asfalto virou gelatina. E
era de uva. Assustou-se com a perda de equilíbrio. Quis voltar para o asfalto.
Não iria conseguir correr tão rápido por ali. Mas foi até lembrar-se que sempre
sonhara em caminhar sobre um chão de gelatina. E então caminhou. Parou de
correr. E então saltou cada vez mais alto. E em pleno vento quase parado, a
muitos pés de altura, lembrou-se do seu joelho que gritava. E foi quando
percebeu que ouvia um assovio, o chão de gelatina era como música para seu
joelho.
E a gelatina de uva virou gelatina multicolorida. Ele deitou, balançou e
sorriu. Soube que estava sonhando, por isso não se lembrava de ter acordado ou
de ter dormido.
Quando acordou, estava na
cama e descoberto. Eram cinco e quarenta da manhã. O vento soprava pela fresta
da janela. Sentou, abriu o que faltava da janela e dos olhos. Assistiu ao
nascer do Sol. Tão colorido quanto à gelatina.
E foi nesse mesmo dia que, dentre outras coisas menos importantes, ele comprou
um colchão de água.
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