segunda-feira, 28 de maio de 2012

gelatina de festa


Quando percebeu já estava correndo. Não se lembrava de ter acordado. De ter ido dormir. Deu-se conta quando viu o asfalto se transformando em terra que se transformava em cimento que se transformava em grama. Seus pés se mexiam em harmonia, se encontrando de relance para logo se distanciarem novamente. E a grama virava areia. E o tempo não parava de passar. Quando percebeu que estava correndo, foi quando seu joelho começou a gritar. Foi quando, que em mais dois ou três passos, se acostumou ao incômodo. E o grito foi ficando baixinho. Ou tão constante que já nem se dava conta. E a areia virou asfalto.

Quando foi que parou de pensar se o vento que batia no rosto era da natureza ou se era por ele estar correndo? Se corresse mais rápido, ventaria mais forte? E se o vento estivesse em direção contrária? Não sentiria vento algum? E o asfalto virou gelatina. E era de uva. Assustou-se com a perda de equilíbrio. Quis voltar para o asfalto. Não iria conseguir correr tão rápido por ali. Mas foi até lembrar-se que sempre sonhara em caminhar sobre um chão de gelatina. E então caminhou. Parou de correr. E então saltou cada vez mais alto. E em pleno vento quase parado, a muitos pés de altura, lembrou-se do seu joelho que gritava. E foi quando percebeu que ouvia um assovio, o chão de gelatina era como música para seu joelho.


E a gelatina de uva virou gelatina multicolorida. Ele deitou, balançou e sorriu. Soube que estava sonhando, por isso não se lembrava de ter acordado ou de ter dormido. 


Quando acordou, estava na cama e descoberto. Eram cinco e quarenta da manhã. O vento soprava pela fresta da janela. Sentou, abriu o que faltava da janela e dos olhos. Assistiu ao nascer do Sol. Tão colorido quanto à gelatina.

E foi nesse mesmo dia que, dentre outras coisas menos importantes, ele comprou um colchão de água. 

Nenhum comentário: